Profissão docente: quem quer ser professor hoje?
1º. Debate temático – Profissão Docente Mini-artigo:
http://liberlivroeditora.blogspot.com.br/2011/03/profissao-docente-quem-quer-ser.html
Responder
esta questão é simples: reúna 10 jovens que cursam ensino médio e pergunte:
quem quer ser professor? Sem sombra de dúvida a resposta será um profundo
silêncio e rapidamente surgirão muitas negativas...
Caso a
dúvida persista, reúna 10 professores de ensino fundamental ou médio e
pergunte: quem quer continuar a ser professor? Talvez 6 professores respondam
com uma negativa apressada, 3 responderão com outra pergunta – em quais
condições? – e talvez um único solitário afirme, corajosamente, um SIM heróico.
É na
perspectiva de discutir com este sujeito solitário que iniciamos este debate.
Olhadas
rápidas na internet, leituras de jornal, conversas de corredor em escolas,
faculdades e universidades apontam os motivos óbvios destadebandada geral de escolhas profissionais e carreiras: salários baixos, péssimas
condições de trabalho, ausência de perspectiva, violência, desinteresse dos
alunos, das famílias, do poder público, falta de prestígio social, formação
deficiente e pouco atrativa...
Discutir
profissão docente hoje no Brasil requer – além de estudos sociológicos,
econômicos e antropológicos – um passeio pelo imaginário popular sobre a
profissão.
Quem se
lembra da música
de Ataulfo Alves ? A
visão romantizada da professora primária, normalista, bonita e dedicada aos
alunos, que remonta à infância feliz... Onde está essa professora? Aliás... Em
quais esquinas de nossa história da educação se perderam a escola normal, os
institutos de educação, depois os institutos superiores de educação... Em qual UTI se encontram os
cursos de pedagogia e licenciatura?
E a
cinematografia sobre a carreira? Em geral os professores retratados estão muito
mais próximos de um Dom Quixote alijado
de seu Sancho Pança do que de um profissional real, daqueles que vai dar sua
aula todos os dias e recebe um salário pelos serviços prestados. Exemplos são
muitos. Dos clássicos “Good Bye Mr Chips” e “To Sir
with Love” ao
apaixonante e recente “Take the Lead” com Antônio Banderas. Da China temos o
belo“Nenhum a menos” ...
A
produção cinematográfica brasileira deixou poucos registros sobre o
profissional da educação, mas entre estes é possível destacar “Central do Brasil” e “Anjos do Arrabalde” que, apesar da crueza, confirmam a
visão romântica sobre a missão idealizada do professor.
Há
alguns anos surgiu um adesivo desses que se colocam nos vidros traseiros dos
automóveis que dizia: Hei de vencer mesmo sendo professor. O adesivo - lançado
por um sindicato de professores - trazia, à época, uma mensagem que poderia ter
interpretações diversas.
Uma das
interpretações era: apesar do salário miserável que recebo, não pretendo morrer
de fome. De certa forma esta interpretação não perdeu a sua atualidade.
Professores de escolas públicas municipais, estaduais e federais de qualquer
nível de ensino eram mal remunerados, alguns de forma aviltante. Esta condição
ainda permanece.
Uma
outra interpretação era que apesar do meu trabalho não ter reconhecimento
social, continuarei tentando. Atual ainda!
O adesivo
também podia ser interpretado como eu sei que não valho muita coisa, mas é o
que dá para fazer. Uma interpretação assim talvez seja conseqüência das outras
já citadas. Os percalços pelos quais o professor é obrigado a passar atiraram a
sua auto-estima para um lugar desconhecido. É possível ver naquele adesivo um
exemplo de como um grupo de profissionais pode escrever o seu próprio
obituário. Fosse vivo, Sócrates “cicutaria” aquele adesivo e seus autores.
Antes, talvez dialogasse um pouco.
Na
esteira deste adesivo, a televisão brasileira disseminou, através doprograma
humorístico de Chico Anísio, a “Escolinha do Professor Raimundo”,
caricaturando, de vez, o destino do professor brasileiro, com o bordão “e o
salário, ó!”
E como
se não bastasse, num golpe final a nova geração registra on line a visão
sarcástica sobre possíveis reações de professoras a respeito das políticas de
valorização do ensino e do magistério em charges eletrônicas . As professoras retratadas hoje
diferem em muito daquela professorinha do Ataulfo Alves ou dos filmes
americanos.
É
possível, ainda, relembrar as tantas denominações que aparecem para escamotear
a profissão docente. Seria a professora uma “tia”? Seria o professor um
“educador”? Seria o professor um “mediador da aprendizagem”?
E nos
últimos tempos em que também o papel do professor é colocado em questão frente
aos avanços das tecnologias da comunicação e da informação?
Todas as
análises econômicas sobre o Brasil na vanguarda do desenvolvimento econômico
mundial apontam para o gargalo que representa nosso atraso educacional,
fartamente registrado pelas pesquisas
internacionais.
Numa
correlação simples: o Brasil não oferece uma educação minimamente razoável
porque os professores não são bem formados, não têm condições de trabalho e de
carreira.
E o
pior, caminhamos para uma situação em que estes problemas serão solucionados:
não teremos mais professores, pela falta completa e absoluta de profissionais
interessados em ingressar e continuar na carreira.
Ficamos assim?
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