terça-feira, 8 de junho de 2010

Mensagem de Nélsinês - abertura 26ª Feira do Livro de Canoas

Exmo.sr. Prefeito, Secretário de Cultura, Autoridades e representantes de entidades; aos Colegas Escritores e Colegas Professores; e a todas as pessoas que vieram prestigiar este momento solene, minhas saudações!
Antes de tudo, desejo compartilhar minha alegria pela outorga do título de Patrona da 26ª Feira do Livro de Canoas a mim concedido. Estendo esta homenagem a todos os escritores canoenses, dedicando também, meu apreço aos leitores, estes que, dão sentido ao escrever. E, se tal honra me está sendo atribuída, é justo reconhecer, que sou o que sou porque assim me fiz, com o auxílio de meus próximos e dos livros. Tantos que, se não cabem neste espaço, peço a Deus a graça de não me faltarem oportunidades de retribuir ou externar minha gratidão, exaltando sua importância. Abro aqui um parêntese para mencionar quem primeiro me incentivou e comigo, desde criança, intercala a lida da enxada, com o virtuoso ato de ler: minha mãe e meus irmãos. Através deles homenageio a cidade de São Leopoldo, de onde migraram meus antepassados.
A Feira do Livro, com certeza, faz esta terra mais pujante, porque eleva a Cultura das Letras e dos Livros aos patamares que merece. Pois, é a Cultura de um povo que fomenta o desenvolvimento humano e o progresso social. Benditos sejam os que nos idos de 1984 concretizaram esta primorosa ideia que já se tornou tradição em nossa cidade. Assim, a comunidade canoense pode orgulhar-se hoje dessa sua construção cultural, manifesta também nas demais expressões artísticas que vêm somar-se à arte central dessa festa, que é a arte literária. E orgulhar-se, ainda, pela criação e realizações de entidades como a Casa do Poeta, a ACE e o Guajuviras Centro de Artes, a Biblioteca Pública Municipal João Palma da Silva, além de outras. Sem esquecer da Fundação Cultural de Canoas que por vinte e cinco anos promoveu, sediou e apoiou diversas iniciativas culturais desta cidade. E pela ASCCAN que lhe sucede.
A cultura de um povo se expressa no seu fazer cotidiano, seja através do labor diário desde o trabalho mais amiúde, porém indispensável de cada membro da comunidade; seja no destaque da nobreza das pessoas que empenham esforços imensuráveis nas ações em prol do bem-comum; seja ainda, no brilho de talentos que se destacam e buscam através do seu fazer, elevar as realizações humanas ao sublime.
Este, o objetivo da Feira do Livro: unir a sociedade numa sadia apreciação e confraternização, onde as diferentes modalidades de expressão se entrecruzam e completam, sempre mediadas pela palavra. Juntamente com o Trensurb, festejemos toda riqueza que ambos têm gerado, integrando Canoas às demais cidades gaúchas e brasileiras. Canoenses, gaúchos, brasileiros: tão caras em nosso coração, estas palavras.
Sim, há que se dar destaque à palavra, instrumento e objeto de toda Literatura. Falada, ouvida, lida e escrita, a palavra é a elaboração mais complexa da racionalidade e se distingue na gama magnificente de possibilidades da comunicação humana. Neste sentido, um dos grandiosos atributos da Literatura é sua capacidade de promover diálogos e interação com mundos além do aqui e do hoje, provocando reflexões sobre o passado e propiciando incursões ficcionais no futuro.
A Arte Literária reúne experiências históricas de um povo e suas interpretações do presente. Como bem disse Monteiro Lobato: “Escrever é gravar reações psíquicas. O escritor funciona qual antena - e disso vem o valor da Literatura. Por meio dela, fixam-se aspectos da alma dum povo, ou, pelo menos, instantes da vida desse povo.”.
Neste sentido, faz-se mister lembrar que as artes, embora nascidas da subjetividade dos indivíduos e sociedades, somente se engalana de plenitude no encontro com o outro, na comunhão do escritor/artista com o público. A obra literária é, portanto, um jogo interativo entre o escritor e o leitor, um espetáculo de mil vozes, sons e imagens que deslizam no silêncio das palavras impressas, cujo eco faz sentido ao tocar o coração de quem lê.
E ler é descortinar mundos, é iluminar a vida, é buscar e encontrar horizontes além de nossa realidade, descobrir novas perspectivas e possibilidades. Ler com espírito crítico, atento e perspicaz é conquistar a liberdade de pensamento capaz de superar as escravidões a que se subjuga todo aquele que não cultiva as potencialidades superiores que nos distinguem como humanos. E o escritor, por sua vez, não pode fingir que está acima das mazelas de seu tempo, senão fazer de sua pena uma ferramenta, que desperte os sonâmbulos e suscite novos sonhos e fé. Que a pena do escritor resgate os ébrios, alavanque os idealistas, resista aos opressores, emudeça os falsários e combata as injustiças e doutrinas vãs.
Só quem lê, sabe do prazer e do tesouro que representa a leitura para o espírito sedento. Todavia, para conhecer essa dádiva é preciso se aventurar no exercício, desenvolver a habilidade de interpretar significados e sentidos, acordar os olhos da alma, abrir o caminho do pensar, do saber. Depois, tudo flui como brisa trazendo ares sempre renovados e férteis de imaginação, de conhecimentos e de sonhos.
Seja esta festa, a Feira do Livro que hoje se inicia em Canoas, uma oportunidade magna de construir con-versos, con-textos, onde os sentimentos mais sublimes e as ideias mais nobres possam se expressar e fazer eco em cada um dos que aqui se fazem e fizerem presentes. Que, ao sair desse encontro, cada pessoa leve consigo uma energia positiva e a irradie nos demais ambientes de sua vivência, de modo a auxiliar o mundo a trilhar caminhos de mais harmonia, ética e dignidade.
Que toda a comunidade e visitantes aproveitem ao máximo o acesso à participação, compartilhando com os demais os seus saberes e fazeres diversos, fruindo dos encontros com escritores, das oficinas, exposições. Aproveitem adquirindo obras para enriquecimento do acervo cultural da família, mantendo acesa nos lares, a chama da Literatura a iluminar o cotidiano tantas vezes coberto de breu. Pois urge que cada um de nós faça brilhar a sua luz para que a humanidade engrandeça as suas prerrogativas de nobreza e não sucumba sob sua própria involução.
Enfim, todos leiam muito! Pois, de nada servirão os livros se empilhados num espaço qualquer ou fazendo de uma biblioteca um depósito, sem alguém a abri-los de modo que as palavras neles contidas possam se transformar em sementes de vida aos nossos olhos ávidos por um alimento para a alma. Pois, como disse Tagore, “as palavras necessitam ser vividas para serem verdadeiras: eis a sentença da realidade”.
Parabéns à comunidade canoense pela criação e preservação da, já tradicional, Feira do Livro que neste ano de 2010 chega à sua 26ª edição! Esta é minha mensagem.
Nelsi Inês Urnau – Canoas/RS

2 comentários:

  1. Nelsi ouvindo-a falar na abertura da 26ºFeira do Livro de Canoas senti orgulho de ser tua amiga e colega de profissão.Creio que fostes fiel aos teus princípios e feliz nas tuas colocações.Fiquei emocionada em vários momentos mas gostei muito quando dizes:"Ler é descortinar mundos, é iluminar a vida, é buscar e encontrar horizontes além de nossa realidade, descobrir novas perspectivas e possibilidades'. Só lamentei ofato de não ter mais pessoas ouvindo-a.Mas como para tudo há uma saída, emprimi o discurso e vou fixar no Mural da escola.Parabéns mais uma vez amiga escritora.

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  2. Obrigada, amigona! Como disse também, "sou o que sou, porque assim me fiz, com o auxílio de meus próximos e dos livros". Inclua-se aí. Você sempre me deu a maior força! E seu nome está na minha lista de dedicatórias a fazer nas próximas obras.

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