quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tragédias que se repetem

ENCHENTE

O céu negro vocifera sua revolta
clarões de chamas sobre a terra a desabar.
Derrete o morro, despenca lava gelada
vidas e amores na cidade a enterrar.

Olha a menina que aos céus sorria, alegre
vendo, em raios, holofotes e tablados.
Já não chora, nem a sorte mais lamenta
jaz submersa sob os sonhos desabados.

E o menino que a chuva não temia
na enxurrada observava seus barquinhos.
Já não ri... a lama  suja tudo e rouba
as estradas que seriam seus caminhos.

Chora o pai. Quem diz que homem não chora
vendo o filho ser tragado pelo rio?
A correnteza bebendo o seu rebento
levou junto sua alma e seu brio.

Quando o sol entre as nuvens apareceu
a mãe em prantos sobre a terra observou
o berço em desalinho, molhado e vazio 
para ela foi somente o que restou.

Desce a água das vertentes em cascatas
raíz, asfalto, precipícios põem à mostra.
Desabam casas qual castelos de areia
nas várzeas fundas a cidade se prostra.

Cães se afogam ganindo desesperados
em correntes esquecidos por seus donos.
Pavor de noite, rio e mar ainda borbulham
indistintos vão velhos mochos, ricos tronos.

Corações em transe, olhos estarrecidos
bradam feridos realidade que lateja.
Pedaços de alma, caminham como ébrios
a natureza, o homem que a fere, despeja.

Mãe-Terra, tende piedade desta gente
em sua jornada, o horizonte já não fita.
Poupai-lhe a esperança e a flor de seus anseios
despertai-a da inconsciência em que dormita.

Fiz este poema quando ocorreram os deslizamentos em SC. Depois disso, sucederam-se outros e mais outros e agora este no RJ. Enquanto cada um não aprender a poupar o que usufrui e eliminar o desperdício de energia, água e quaisquer produtos, veremos a natureza continuar gritando que não suporta mais os abusos do lixo-bicho-humano.
Nélsinês

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Homenagem à minha irmã Alice Lúcia

E a esperança amanheceu o dia
que não terminaria
feliz.
Um adeus de sal na boca
a pergunta na voz rouca
por que Deus assim quis?



E ela se foi no abandono
da eternidade, o sono
cobriu a tarde de dor.
Ali se luzia um sorriso
tétrico, impreciso
coroado de flor.


Cessaram seus gemidos
de nossos corações feridos
levou junto uma parte.
Resta a saudade e lembrança
o silêncio da distância
cruel aprender desta arte.


Alice partiu em 10-01 às 10:10 h. Com certeza, foi convidada a festejar seu aniversário de hoje, ao som das cítaras dos anjos, assoprando estrelas sobre nuvens de algodão doce. Mas, nossos corações de carne queriam tanto que apenas assoprasse 53 velas, resmungando algum "ah" ao nossos desafinados Parabéns com  sabor do que a terra nos dá.
Nélsinês