segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA BRASILEIRA

O despertar do povo para uma nova política que acene com a possibilidade do cidadão tornar-se partícipe das decisões sociais e de seu próprio destino, é que atiça o furor dos que veem ameaçado seu pedestal de folclóricos e enraizados ou emergentes e novos privilégios e abusos de poder. Mas, como até mesmo as tradições e instituições se esgotam no significado, se renovam e adaptam às novas necessidades e exigências no desenrolar da história, chegou a hora imperiosa de essas transformações atingirem o âmbito da política, mais precisamente dos partidos políticos.
No Brasil os fatos têm mostrado que os partidos no decorrer dos tempos  têm sido incapazes de atender aos apelos populares por coerência ética, legitimando um poder conquistado e recheado com práticas desonestas em qualquer cargo. Muitos desses partidos e partidários procuram disfarçar-se inventando novas siglas ou chegando mesmo a perder sua própria identidade partidária com tantas coligações, conchavos, negociatas e apadrinhamentos. E quando observam que nem mais essas artimanhas são suficientes para mantê-los livres do fim, então revestem-se de couraças e se apresentam como defensores do povo, atribuindo seus delitos desmascarados ao que chamam de ‘armações” ou “intrigas da oposição’. Ou ainda, culpam o sistema, protelando, no entanto, a Reforma reconhecidamente necessária, prometida pelos candidatos e esperada pelo povo.
Sim. É preciso “inventar uma nova verdade” para que a realidade não seja vista. Porque, de repente, os preceitos de ordem e justiça podem supor o fim de suas miseráveis farsas. Então a luta é para tornar impossível a consciência da Verdade real. Se não veladamente, então com artimanhas das mais diversas. E por incrível que pareça, são estas que dão testemunho contra, justamente dos ditos "representantes honestos" em questão. Pois, é o amigo e não o inimigo que testemunha contra. Os juízes inteligentes descobrem a culpa do acusado nas contradições  dos próprios testemunhos defensórios e na sua desesperada luta por ocultar as provas e dificultar ou mesmo impedir o desmascaramento.
Outro ponto a salientar neste sentido, é a confiabilidade. Partidos que historicamente não prestaram contas de um proceder coerente com o discurso, ou os remanescentes de sistemas de ideologias falidas,  aos poucos vão se desagrupando e sob novas nuances e roupagens, aliam-se conforme lhes favoreça, ora com uma ora com outra doutrina, fundindo-se todos num só lado que é o da política do: “do poder sobre o povo e para nós” – contrariando  o princípio político correto  “do povo, para o povo e pelo povo”. Apóiam-se, assim, no já institucionalizado esquema de manter inabaladas suas estruturas nefastas, cujas roupagens escondem os lobos que abrigam.
Opõem-se unilateralmente a desmantelar o sistema de regras que impede uma perspectiva de exercício consciente da cidadania por parte de toda população, para uma democracia verdadeira. Quando opositores, apontam tal chaga; quando detentores de suas prerrogativas, a escondem, negam ou fingem que não existe. Iludem aos incautos afirmando que ao povo é dado todo o poder, bastando exercê-lo com a ponta dos dedos.  De fato, a cada quatro anos é dada ao povo a chance de  escolher entre ficar com as raposas velhas de hábitos já conhecidos ou trocá-las por teiús que mudam a si mesmos conforme mudam de ambiente e sempre incorporam as características do espaço onde transitam.
Nenhum país é uma nação se seus indivíduos não forem cidadãos, isto é, engajados num projeto de nação, comprometidos com sua elaboração e execução. Se, “todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido”, isto não significa que os votos conferidos ao candidato outorguem-no a usar o poder que lhe é confiado, conforme “ele” achar correto ou quiser. Se assim o faz, legisla e administra em causa própria, não mais podendo se augurar como fiel e digno representante daqueles que o elegeram. Se, porventura seus representados requerem algo que supostamente fira o senso de justiça, ética ou moral do eleito ou da sociedade como um todo, o instituído no poder tem por obrigação discutir isso com toda nação, até que se elucidam os enganos.
Entretanto, a maioria dos políticos esquece que sua investidura no cargo lhes dá a responsabilidade de representar os ideais da sociedade, não o poder de agir conforme seu próprio senso de ética. E o descuido desse preceito básico é que tem criado a imagem popular negativa acerca dos investidos em mandatos representativos e dos partidos que abrigam tais usurpadores do poder, da fé pública, do patrimônio público e da “Coisa Pública” como um todo.
A omissão dos partidos em expurgar de seus quadros os maus políticos, faz transparente a verdade de que suas siglas comportam a ignomínia da má política, ou seja, suas identidades são indignas de confiança, posto sustentarem, pela proteção, a má-fé e os atos delituosos de seus membros.
Estranhamente, também, as coisas que antes se considerava nefasto pecado contra os bons princípios políticos, agora se revestem de suposta ‘política correta’. Podridões remanescentes de velhas ideologias de regimes de opressão, supressão de direitos individuais, de escravidão de pensamento, e até mesmo doutrinações pouco gloriosas para a dignidade humana, agora se auguram a promessa de progresso, na mansa e calada ordem de um povo que perdeu a capacidade de indignar-se perante a mentira e as falsas utopias. E de outra parcela que se vende ao preço que vale... uma ninharia.
 Arrebanhados quase todos na  desilusão do ideal de uma sociedade igualitária onde direitos e deveres sejam tão equitativos que a ninguém sobre e a ninguém falte, calaram-se os opositores de voz e de vulto. Isso, porque estes perceberam que nada, de fato, mudaria profundamente; por vias e mãos diferentes, acabava tudo no mesmo rumo. Convinha, pois, a harmonia cúmplice em vista da adaptação dos novos sujeitos ao velho sistema, não a mudança do sistema de acordo com as premissas dos enterrados sonhos e princípios de Estado de Direito justo e democrático, que embasava o povo nos seus ideais de mudança.
Abrir mão de cobrar coerência entre o discurso e a prática é o mesmo que dizer que a democracia não vale a pena. E aceitar a sentença de que “os grandes ideais sempre sucumbem às falhas dos seres humanos que erguem suas bandeiras” é afirmar a inutilidade da própria existência de um partido. Muito embora, eleger um partido como modelo de ética seja presunção, há necessidade de a maioria se depurar dos erros e distorções que, se não os iguala entre si, situam-nos muito próximos uns dos outros. Tão próximos e “unidos” que se confundem em sua identidade e razão de serem “partidos”.
A não correção dessas mazelas dentro dos partidos – desfalques e falcatruas, conchavos e coligações esdrúxulas de mandatários e legisladores, desmascarados perante a opinião pública, por adversários, muitas vezes com interesses não mais honestos e não menos funestos – esmorece os ânimos da sadia cidadania e macula os objetivos de suas constituições e de todas as instituições de poder público, ornamentando de vergonha a nação.
Pobre Brasil! Mais miserável a cada dia se torna, pois já não se curvam os brasileiros a outras nações exploradoras, mas a seus próprios mandatários que, destituídos de valores morais, tripudiam sobre a ignorância e a estupidez de alguns, e sobre a impassibilidade e sentimento de impotência de outros, dominando assim, toda a população. Do jeito que vamos, maculamos nossa bandeira e dói ouvir e cantar nosso hino.
É hora de cada um acordar. Deixar de ser otário ou omisso. Amanhã pode ser tarde. Precisamos resgatar o futuro do Brasil desse mar de lama, antes que nossos descendentes paguem o preço. Ou moralizamos a política brasileira através do voto e dos partidos ou ...
Nélsinês

Um comentário:

  1. Parabéns pelos seus comentários. É bem isto aí. Na verdade os políticos tem que ouvir mais os anseios do povo. Adilar Signori

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