1° DE JANEIRO (II)
Somente o calendário fala
pela manhã, de novo ano.
As paredes mostram
que nada de novo aconteceu.
Lá fora as nuvens flutuam
como sempre
tão leves, tão brancas!
E nas vidraças se segura
com as mesmas mãos
o vento.
Março e abril virão
e tornarão a ir-se,
e teus dias
de horas eternas se preencherão.
Preenchem-se com céu e sonhos,
as auroras
em teus olhos e tua alma.
À noite
ao olhar o espelho
de rugas teu rosto se marca
tantas quantas
lágrimas que já se foram.
Um espectro de carta
o encontro
o “eu” que te perscruta
com seu olhar de vidro
te esfacela a calma
na semelhança
estranha e terrível
que entranha tua palma
e reveste teu ser nu.
Descobres
no infinito do instante:
todos os dias são novos e jubilares
só a dor é cruel
só as lágrimas têm gosto de sal.
E percebes
que tens da eternidade
somente, ainda
a estrela do anoitecer.
(1987)
Ba, que lindo Nelsi! E profundo. Tocou meu coração. Por que em vez de tanta política que não tem jeito mesmo, tu não coloca mais poemas neste blog? também contos e outros textos literários.
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