Biografia
José Mauro nasceu em Bangu no Rio de Janeiro em 26 de fevereiro de 1920 e faleceu em 25 de julho de 1984, aos 64 anos de idade em São Paulo , capital.
Sua família era muito pobre, e quando ele era ainda muito jovem, ele migrou para Natal, onde parentes cuidaram dele. Entrou na Faculdade de Medicina, mas abandonou o curso de estudos no segundo ano e retornou ao Rio de Janeiro onde trabalhou como instrutor de boxe e até mesmo como modelo de um pintor.
José Mauro de Vasconcelos tem nas veias sangue de índia e português. Nasceu em Bangu, Rio de Janeiro, e passou a infância em Natal, onde foi criado com muito sol e água. Aos nove anos de idade aprendeu a nadar, e com prazer relembrava os dias de contentamento, quando se atirava às águas do Potengi, quase na boca do mar, a fim de treinar para as provas de grande distância. Com freqüência ia mar a dentro, protegido por uma canoa porque a barra de Natal está sempre infestada de tubarões. Ganhou vários campeonatos de natação e, como todo garoto, gostava de futebol e de trepar em árvores.
Mas o esporte, não constituía sua única preocupação. Depois do primário, aos 10 anos de idade já cursava o primeiro ano do curso ginasial, que terminou cinco anos mais tarde. Então, gostava dos romances de Graciliano Ramos, Paulo Setúbal e José Lins do Rego.
Depois do ginásio, os estudos de José Mauro como autodidata foram sempre feitos à base de trabalho. Seu primeiro emprego, dos dezesseis aos dezessete anos, foi treinador de peso-pluma; recebia 100 cruzeiros (velhos) por luta no Rio de Janeiro, pois aos quinze anos saíra de Natal para ganhar o mundo. No Estado do Rio, trabalhou numa fazenda em Mazomba, perto de Itaguaí, carregando banana. Depois, foi viver como pescador no litoral fluminense, onde não se demorou muito, partindo em seguida para o Recife. Ali, exerceu o cargo de professor primário num núcleo de pescadores. Da capital pernambucana, José Mauro saiu para começar incessante vai-vem, do Norte ao Sul, e vice-versa, permanecendo um pouco em cada lugar, para em seguida enveredar pelo sertão e viver entre os índios.
Dotado de prodigiosa capacidade inata de contar histórias, possuindo fabulosa memória, candente imaginação e com uma volumosa experiência humana, José Mauro de Vasconcelos não quis ser escritor, foi obrigado a sê-lo. Os seus romances, como lavas de um vulcão, foram lançados para fora, porque dentro dele o "eu" estava transbordando de emoções. Ele tinha de escrever e de contar coisas. Sua fenomenal produção literária, iniciada aos 22 anos de idade, ainda não chegou ao meio do caminho, porque ele está em plena ascensão, com inexauríveis reservas, que o levarão a posição ainda mais elevada nas letras nacionais.
O autor de belos romances tinha método originalíssimo. De início, escolhia os cenários onde se movimentarão seus personagens. Transporta-se então para o local, onde realizava estudos minuciosos. Para escrever Arara Vermelha, percorreu cerca de 450 léguas no sertão bruto.
Em seguida, José Mauro dá asas à sua fantasia e, na imaginação, constrói todo o romance, determinando até mesmo as frases da dialogação. Tinha uma memória que, durante longo tempo, lhe permite lembrar dos mínimos detalhes do cenário estudado. "Quando a história está inteiramente feita na imaginação", revelava o escritor, "é que começo a escrever. Só trabalho quando tenho a impressão de que o romance está saindo por todos os poros do corpo. Então vai tudo a jato".
Com o seu sistema de ficar dormindo na pontaria até que o livro todo esteja "escrito" na imaginação, contava José Mauro que, ao pôr-se em ação, na fase material de bater à máquina, tanto fazia escrever os capítulos, um. após outro, como dar saltos; depois de pronto o primeiro passa à conclusão do livro, sem antes ter elaborado o entrecho. "Isso", explicava o escritor, "porque todos os capítulos estão já produzidos cerebralmente. Pouco importa escrever a seqüência, como alterar a ordem. No fim dá tudo certinho".
Artista do cinema e da televisão, José Mauro já trabalhou em diversos filmes como Carteira Modelo 19, que lhe valeu o prêmio Saci como melhor ator coadjuvante, Fronteiras do Inferno, Floradas na Serra, Canto do Mar, do qual escreveu o roteiro, Na Garganta do Diabo, obtendo o prêmio Governador do Estado como melhor ator, A Ilha, conseguindo o prêmio de melhor ator pela Prefeitura, e culminando com Mulheres & Milhões, sendo laureado com o Saci de melhor ator do ano. Dos seus livros, "Meu pé de laranja lima", Vazante e Arara Vermelha foram filmados.
Na televisão, desempenhou numerosos papéis, destacando-se o de Padre Damião. Como ator, foi também talentoso; suas sóbrias interpretações alcançaram grande êxito.
Crítica
Conquanto dono de uma literatura leve e agradável, tendo feito grande sucesso junto ao público, a importância do trabalho de José Mauro não é devidamente reconhecida no Brasil.
A crítica francesa Claire Baudewyns afirma que há em suas obras algo "qui confère aux œuvres de José Mauro de Vasconcelos une poésie particulière née de l’alchimie entre monde réel et monde imaginaire." ("que confere às obras de José Mauro de Vasconcelos uma poesia particular, nascida da alquimia entre o mundo real e o mundo imaginário", numa tradução livre).
Obra
- Banana Brava (1942)
- Barro Blanco (1948)
- Longe da Terra (1949)
- Vazante (1951)
- Arara Vermelha (1953)
- Arraia de Fogo (1955)
- Rosinha, Minha Canoa (1962)
- Doidão (1963)
- O Garanhão das Praias (1964)
- Coração de Vidro (1964)
- As Confissões de Frei Abóbora (1966)
- Meu Pé de Laranja Lima (1968)
- Rua Descalça (1969)
- O Palácio Japonês (1969)
- Farinha Órfã (1970)
- Chuva Crioula (1972)
- O Veleiro de Cristal (1973)
- Vamos Aquecer o Sol (1974)
- A Ceia (1975)
- O Menino Invisível (1978)
- Kuryala: Capitão e Carajá (1979)
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