Acalanto...
O som da cidade vai ninando-nos...
profundamente.
O tráfego nos embala
o tráfico nos abala
e a gente faz que não ouve.
Mas, a cidade canta:
“nana, nana; nana, imbecil”.
A poeira fecha os olhos
seca-nos a fuligem, a crise, a contínua crise
o muito piscar, o muito piscar, o muito piscar.
A esperança vai se tornando em alento
demorado e angustiante
e os desencontros, os crimes
nos retardam o pulso.
É tarde...
O som da cidade é canção evasiva
é a desculpa do mal súbito
tem habeas-corpus para não ser
confundida com causa-mortis.
O som da cidade é o ópio do povo
vai ninando-nos profundamente.
O louco som da disputa
a cicuta sem cerimônia
vai ninando-nos profundamente
vai ninando-nos profundamente
profundamente.
(Orlando Fonseca)
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