Brasil tem mais dias letivos do que os países desenvolvidos
05.10.11
Convidado a abrir o 'Congresso Internacional - Educação: uma agenda urgente' (13/09), o ministro Fernando Haddad surpreendeu no final do discurso ao defender a ampliação da carga horária para 220 dias letivos.
Haddad disse ter constatado que o número de dias letivos no Brasil é inferior a muitos países. Mas ele não está certo.
No mesmo dia 13, a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico divulgou o relatório Education at a glance 2011, que apontou exatamente o contrário: são poucos os países que possuem mais de 190 dias letivos e o Brasil é um deles.
Nos países da OCDE, os professores lecionam, em média, de 183 a 186 dias, de acordo com o nível de ensino. Apenas quatro países têm 200 ou mais dias letivos e destes, só a Coreia possui 220.
OCDE. Education at a glance 2011, p. 428 .
Notas da Fepesp:
(1) No original: primary education, lower secondary education e upper secondary education
(2) No Canadá, o ano letivo tem duração de 190 dias
(3) Na França, o ano letivo é de 144 dias no primário e de 175 a 180 dias no primeiro e segundo ciclo do secundário.
Haddad disse ter constatado que o número de dias letivos no Brasil é inferior a muitos países. Mas ele não está certo.
No mesmo dia 13, a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico divulgou o relatório Education at a glance 2011, que apontou exatamente o contrário: são poucos os países que possuem mais de 190 dias letivos e o Brasil é um deles.
Nos países da OCDE, os professores lecionam, em média, de 183 a 186 dias, de acordo com o nível de ensino. Apenas quatro países têm 200 ou mais dias letivos e destes, só a Coreia possui 220.
Trabalho dos professores - número de dias letivos/ano | |||
Países membros da OCDE | |||
Ensino Médio (1) | |||
Alemanha | 193 | 193 | 193 |
Austrália | 197 | 197 | 193 |
Áustria | 180 | 180 | 180 |
Bélgica(Flandres) | 178 | 179 | 179 |
Bélgica (Valônia) | 183 | 183 | 183 |
Canadá | (2) | (2) | (2) |
Chile | 191 | 191 | 191 |
Coreia | 220 | 220 | 220 |
Rep. Tcheca | 189 | 189 | 189 |
Dinamarca | 200 | 200 | 200 |
Escócia | 190 | 190 | 190 |
Eslováquia | 187 | 187 | 187 |
Eslovênia | 190 | 190 | 190 |
Espanha | 176 | 176 | 171 |
Estados Unidos | 180 | 180 | 180 |
Estônia | 175 | 175 | 175 |
Finlândia | 188 | 188 | 188 |
França | (3) | (3) | (3) |
Grécia | 177 | 157 | 157 |
Hungria | 181 | 181 | 181 |
Inglaterra | 190 | 190 | 190 |
Irlanda | 183 | 167 | 167 |
Islândia | 176 | 176 | 171 |
Israel | 183 | 176 | 176 |
Itália | 172 | 172 | 172 |
Japão | 201 | 201 | 198 |
Luxemburgo | 176 | 176 | 176 |
México | 200 | 200 | 176 |
Noruega | 190 | 190 | 190 |
Nova Zelândia | -- | -- | -- |
Países Baixos | 195 | -- | -- |
Polônia | 181 | 179 | 180 |
Portugal | 175 | 175 | 175 |
Rep. Tcheca | 189 | 189 | 189 |
Suécia | -- | -- | -- |
Suíça | -- | -- | -- |
Turquia | 180 | -- | 180 |
Média OCDE | 186 | 185 | 181 |
Outros países | |||
Argentina | 170 | 171 | 171 |
Brasil | 200 | 200 | 200 |
China | 175 | 175 | 175 |
Indonésia | 251 | 163 | 163 |
Rússia | 164 | 169 | 169 |
Notas da Fepesp:
(1) No original: primary education, lower secondary education e upper secondary education
(2) No Canadá, o ano letivo tem duração de 190 dias
(3) Na França, o ano letivo é de 144 dias no primário e de 175 a 180 dias no primeiro e segundo ciclo do secundário.
25/07/2011
Salário de professor pode ser vinculado ao rendimento escolar dos alunos?
Salário de professor pode ser vinculado ao rendimento escolar dos alunos?
Musa inspiradora do programa adotado em São Paulo e outros estados, o sistema de bonificação de professores da cidade de Nova York foi definitivamente abolido. Instituído a partir do ano letivo 2007/2008, ele estava suspenso desde janeiro.
O anúncio foi feito pelo Departamento Municipal de Educação em 17/07, depois de constatar que o "pagamento por mérito" não tinha resultado em aumento do rendimento dos alunos.
O programa de bonificação é parte de uma política educacional baseada na fixação de metas e resultados medidos por avaliações externas, com ênfase em testes padronizados aplicados aos alunos.
Professores e escolas podem ser premiadas ou punidas de acordo com os resultados. O bônus é pago quando as metas são alcançadas. Caso contrário, estão todos sujeitos a medida corretivas que vão da advertência, suspensão ou demissão do professor ao fechamento de escolas ou privatização (as chamadas charter schools, escolas de gestão privada em edifícios públicos e com recursos idem).
A mudança anunciada pelo Departamente de Educação está limitada ao bônus. No dia 21/07, a federação dos professores (Teacher's Union) sofreu uma derrota na justiça ao tentar impedir o fechamento de 22 escolas e a instalação de 15 escolas charter em prédios onde funcionam tradicionais escolas públicas.
Críticas
Oficialmente, a decisão de acabar com o bônus deveu-se ao resultado de uma pesquisa encomendada, que concluiu "não ter havido melhoria do rendimento dos alunos".
O fato é que são cada vez mais freqüentes questionamentos sobre a eficácia dessa reformas a longo prazo.
Os resultados da política de bonificação parecem comprovar aquilo que todo professor já sabia: o rendimento escolar depende de uma série de variáveis - inclusive o compromisso do aluno - e não exclusivamente do professor.
Diane Ravitch, professora da universidade de Nova York que por muitos anos formulou e defendeu muitas dessas reformas, tornou-se uma das principais opositoras ao modelo.
Ela critica a demasiada importância dadas às provas padronizadas, o esvaziamento curricular e a extrema responsabilização dos professores por todas as mazelas da educação. Por último, ela chama para uma pesquisa produzida pela economista Margaret Raymond, segundo a qual apenas 17% das escolas charter tinham melhor desempenho do que as escolas públicas.
Influência
Nova York tornou-se referência de reformas educacionais que começaram a ser defendidas por sucessivos governos federais, desde os anos 80.
Essas reformas partiram do pressuposto de que a perda de competitividade dos Estados Unidos era conseqüência da baixa qualidade da escola pública. Na raiz do problema estava a forma de funcionamento da escola e o trabalho exercido pelos professores.
Propôs-se, então, aproximar a gestão escolar aos padrões de eficiência empresarial. Era preciso fixar metas, medir a eficácia das ações pedagógicas por meio de testes padronizados e responsabilizar os professores e as escolas pelos resultados alcançados. Um dos subprodutos dessa política foi a remuneração por mérito.
A adoção dessa política combinada a uma grande estrutura de marketing fez da experiência de Nova York um modelo para outras cidades e estados dos Estados Unidos, como de outros países, inclusive o Brasil.
O modelo tupiniquim não foi tão radical e começou com as avaliações padronizadas a partir dos anos 90 (Saeb,Prova Brasil, Enem, Saresp etc) e mudanças curriculares.
Do ponto de vista pedagógico, as reformas iniciadas a partir de 1996 e que se processam até hoje atingiram tanto as escolas públicas como privadas.
Na rede pública, alguns estados - São Paulo e Minas Gerais, por exemplo - foram além. Adotaram a remuneração por mérito e flertam cada vez mais com a iniciativa privada. Na maior parte das experiências, organizações não-governamentais (ONG) ou sociais (OS) , institutos, etc, entram com o projeto e a Viúva, com os recursos.
Exemplos não faltam: a Fundação Itaú Social publicou um estudo no qual defende a adoção, no Brasil, das mudanças implantadasem Nova York. É a maior defensora da gestão privada de escolas públicas.
Em2010, a Parceiros da Educação, associação que promove parceiras entre empresas e escolas públicas, divulgou um documento em que defende mudanças, muitas delas à imagem e semelhança do que ocorre nos Estados Unidos. Entre elas, alteração na lei para favorecer a gestão de escolas públicas por entidades privadas com e sem fins lucrativos. Entre os signatários estão a Fundação Bradesco, Instituto Unibanco, Instituto Natura, Fundação Aprendiz.
Vale lembrar que pela dimensão da rede pública no país, todas as propostas que envolvem "parceria" entre a iniciativa privada e o poder público envolve recursos consideráveis.
No ano passado, economistas da Fipe-USP e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apresentaram um projeto pelo qual bons alunos do ensino médio seriam transformados em tutores responsáveis por aulas de reforço de matemática a alunos de 6º e 7º anos. O governo pagaria R$ 115,00 mensais pela tutoria e R$ 50,00 para os alunos de baixo rendimento, mas o projeto todo estava orçado em US$918.420. Dada a repercussão negativa, a bizarra proposta acabou cancelada.
O anúncio foi feito pelo Departamento Municipal de Educação em 17/07, depois de constatar que o "pagamento por mérito" não tinha resultado em aumento do rendimento dos alunos.
O programa de bonificação é parte de uma política educacional baseada na fixação de metas e resultados medidos por avaliações externas, com ênfase em testes padronizados aplicados aos alunos.
Professores e escolas podem ser premiadas ou punidas de acordo com os resultados. O bônus é pago quando as metas são alcançadas. Caso contrário, estão todos sujeitos a medida corretivas que vão da advertência, suspensão ou demissão do professor ao fechamento de escolas ou privatização (as chamadas charter schools, escolas de gestão privada em edifícios públicos e com recursos idem).
A mudança anunciada pelo Departamente de Educação está limitada ao bônus. No dia 21/07, a federação dos professores (Teacher's Union) sofreu uma derrota na justiça ao tentar impedir o fechamento de 22 escolas e a instalação de 15 escolas charter em prédios onde funcionam tradicionais escolas públicas.
Críticas
Oficialmente, a decisão de acabar com o bônus deveu-se ao resultado de uma pesquisa encomendada, que concluiu "não ter havido melhoria do rendimento dos alunos".
O fato é que são cada vez mais freqüentes questionamentos sobre a eficácia dessa reformas a longo prazo.
Os resultados da política de bonificação parecem comprovar aquilo que todo professor já sabia: o rendimento escolar depende de uma série de variáveis - inclusive o compromisso do aluno - e não exclusivamente do professor.
Diane Ravitch, professora da universidade de Nova York que por muitos anos formulou e defendeu muitas dessas reformas, tornou-se uma das principais opositoras ao modelo.
Ela critica a demasiada importância dadas às provas padronizadas, o esvaziamento curricular e a extrema responsabilização dos professores por todas as mazelas da educação. Por último, ela chama para uma pesquisa produzida pela economista Margaret Raymond, segundo a qual apenas 17% das escolas charter tinham melhor desempenho do que as escolas públicas.
Influência
Nova York tornou-se referência de reformas educacionais que começaram a ser defendidas por sucessivos governos federais, desde os anos 80.
Essas reformas partiram do pressuposto de que a perda de competitividade dos Estados Unidos era conseqüência da baixa qualidade da escola pública. Na raiz do problema estava a forma de funcionamento da escola e o trabalho exercido pelos professores.
Propôs-se, então, aproximar a gestão escolar aos padrões de eficiência empresarial. Era preciso fixar metas, medir a eficácia das ações pedagógicas por meio de testes padronizados e responsabilizar os professores e as escolas pelos resultados alcançados. Um dos subprodutos dessa política foi a remuneração por mérito.
A adoção dessa política combinada a uma grande estrutura de marketing fez da experiência de Nova York um modelo para outras cidades e estados dos Estados Unidos, como de outros países, inclusive o Brasil.
O modelo tupiniquim não foi tão radical e começou com as avaliações padronizadas a partir dos anos 90 (Saeb,Prova Brasil, Enem, Saresp etc) e mudanças curriculares.
Do ponto de vista pedagógico, as reformas iniciadas a partir de 1996 e que se processam até hoje atingiram tanto as escolas públicas como privadas.
Na rede pública, alguns estados - São Paulo e Minas Gerais, por exemplo - foram além. Adotaram a remuneração por mérito e flertam cada vez mais com a iniciativa privada. Na maior parte das experiências, organizações não-governamentais (ONG) ou sociais (OS) , institutos, etc, entram com o projeto e a Viúva, com os recursos.
Exemplos não faltam: a Fundação Itaú Social publicou um estudo no qual defende a adoção, no Brasil, das mudanças implantadas
Em
Vale lembrar que pela dimensão da rede pública no país, todas as propostas que envolvem "parceria" entre a iniciativa privada e o poder público envolve recursos consideráveis.
No ano passado, economistas da Fipe-USP e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apresentaram um projeto pelo qual bons alunos do ensino médio seriam transformados em tutores responsáveis por aulas de reforço de matemática a alunos de 6º e 7º anos. O governo pagaria R$ 115,00 mensais pela tutoria e R$ 50,00 para os alunos de baixo rendimento, mas o projeto todo estava orçado em US$918.420. Dada a repercussão negativa, a bizarra proposta acabou cancelada.
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