domingo, 24 de abril de 2011

BRASIL– 500 e tantos anos e desenganos

         Depois dos festejos históricos dos 500 anos de descobrimento, uso do meu direito cívico para questionar favoráveis e contrários às comemorações, na tentativa de uni-los, não em torno de um Brasil de 500 anos ou mais, passados. Mas, em prol de um Brasil  dois mil, presente e futuro, em tempo e conceito, nem tanto para os estrangeiros, mas principal e primeiramente para nós, brasileiros.
 Nada é absolutamente bom ou mau em si mesmo. Não se pode só festejar sem reconhecer a abrangência de efeitos dos fatos passados. Assim, se a expansão portuguesa se deu de modo dominador, desrespeitando e quase exterminando a cultura e os povos locais, o mesmo fizeram espanhóis e ingleses. Outrossim, foi a partir dessa miscigenação que se formou a legítima cultura brasileira. Pois, antes, esta era uma terra sem nome, com numerosos grupos de nativos, alguns dos quais, mantinham animosidades entre si, ou eram  nômades que, pela migração ou lutas tribais, também poderiam ter deixado de pertencer ao nosso povo. Que o Brasil já existia com seus habitantes, não vale como prerrogativa para a não comemoração. Não fosse a descoberta (talvez nem tenha sido de Cabral), não teríamos hoje o Brasil-território-país.
Condenar a civilização européia pelo que somos é renegar nossas próprias raízes, é não ter orgulho de nossos antepassados, é não ser grato por estarmos aqui agora. E se tal acontece, ainda não somos cidadãos! Pois, quem não se orgulha de sua terra não a ama, e se não a ama, nada faz por ela. Se amamos o Brasil, festejemos. Mesmo porque, ainda nos deixamos bombardear de culturas que pregam ser de valor somente o que vem de fora. Condenamos os descobridores de 500 anos atrás e não reagimos à inculturação do povo brasileiro, cego à infiltração de dominações variadas, na política, na economia...  Não nos tornamos melhores  e nem construímos ainda uma nação com todas as acepções que o termo ‘nação’ implica. Aplaudimos e fazemos reverência à onda de globalização que nos oprime de forma tão sutil  que nem sequer percebemos que estamos agora,  servindo apenas a outros senhorios. Que os portugueses nos descubram de novo!  Pois, de nada terá adiantado nos libertar de seu domínio para sucumbirmos a outros mais nefastos e opressores.
E o que fazemos com o que nos pertence (aos nativos por direito e aos demais por conquista)? Leiloamos a preço vil. E por omissão e vergonhoso descompromisso, continuamos a exterminar nossos já escassos recursos naturais, nossa cultura, nossa precária nacionalidade. Ao angariarmos para nós o direito à exploração de nossas riquezas, acatamos a responsabilidade sobre elas e o compromisso intrínseco que advém, de preservá-las, cultivá-las e distribuí-las justa e igualitariamente.
Sim... festejemos e lamentemos pelo Brasil, não importa se de 500 ou quantos anos! Festejemos que antepassados nossos descobriram a terra onde hoje habitamos, aqui registraram uma história (embora nem sempre digna) e alguns, tão brasileiros se sentiram, que proclamaram que o que aqui tem e se faz, é nosso. Se não soubermos reconhecer o valor disso, não somos melhores que eles, não nos cabendo, portanto, o direito de condená-los. Lamentemos que a consciência dos erros apontados nos descobridores, não impede que continuem sendo repetidos, agora por nós brasileiros, pela ação ou omissão.
Descobrir o Brasil hoje, é ver que há uma história a comemorar, uma realidade a lamentar e uma cidadania a formar. Que esta é a terra que já foi o paraíso dos nativos, que foi transformada em país pelos europeus e onde os brasileiros ainda estão construindo uma nação a que possam chamar de Pátria!
(incluso no romance Loucos não insanos)

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